A inflação de julho divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – foi de 0,03%, medida pelo Índice
Nacional de Preço ao Consumidor Amplo – IPCA.
Houve uma queda acentuada em relação ao mês anterior, que ficou em 0,26%, e
muito mais significativa se comparada ao mesmo período do ano passado, quando
ficou em 0,43%. Com isso o acumulado do ano está em 3,18% e dos últimos doze meses saiu de 6,70% para 6,27%, situando-se novamente dentro da
meta do governo.
Dos grupos que compõem o IPCA, o de alimentação
e bebidas, vestuário e transportes apresentaram deflação, e impactaram
positivamente o resultado. Este último, influenciado principalmente pelas tarifas
de transportes urbanos, teve uma deflação de 0,66% e impactou em -0,13% o
índice total.
Em algumas das maiores capitais do país os
preços das tarifas
de ônibus diminuíram - 6,78% no Rio; 6,25%
em São Paulo; 10% em Goiânia; e até em Belo Horizonte, com uma redução
simbólica de 5 centavos. Mas outras capitais como Manaus, Cuiabá, João
Pessoa, Recife e Vitória também diminuíram as tarifas. Na
outra extremidade estão capitais como Florianópolis e a nossa querida Salvador
que não se curvaram diante das mobilizações das ruas. Por que será?...
O curioso é que mesmo a inflação sinalizando uma
trajetória de queda há três meses, o COPOM
– Comitê de Política Monetária - decidiu, por unanimidade, em julho, pela
elevação da taxa básica de juros (Selic) em 0,5 pontos percentuais e, hoje,
está em 8,5% a.a.
Diante disso, não podemos deixar de fazer uma
breve reflexão sobre os fatos mais recentes do cenário social, político e
econômico brasileiro: a inflação é, antes de qualquer coisa, influenciada pelos
movimentos sociais organizados... Explico...
Ainda em julho o COPOM elevou a taxa Selic
em 0,5% e aumentou a dívida pública
em 10.000.000.000,00 (dez bilhões)
de reais – segundo levantamento da FIESP.
Mais 10 bilhões passam a ser transferidos para o Sistema Financeiro privado,
sem a menor necessidade, pois a inflação já vinha dando sinais de enfraquecimento.
Entrementes, elevou-se a taxa básica sob a alegação de ser necessário para o
controle da inflação – o dólar já ultrapassava a casa dos R$ 1,25.
Logo depois, também em julho, o Governo Federal
anuncia mais um corte no Orçamento da ordem de 10 bilhões, elevando o contingenciamento de verbas de 28 para 38
bilhões em 2013. Coincidência? Claro que não! Não existe almoço de graça... Alguém tinha que pagar a conta: o povo brasileiro.
E quem
quiser estudar um pouco mais o assunto, é só acessar o site do Ministério do
Planejamento e verificar que, apesar dos discursos políticos, áreas como Apoio
Financeiro aos Municípios, Fundo de Desenvolvimento da Amazônia – FDA – e Fundo de Desenvolvimento do Nordeste – FDNE – sofreram cortes importantes. E o FDNE sofreu cortes, mesmo
tendo esta região, sofrido uma das maiores secas dos últimos 50 anos. O total de cortes das despesas
discricionárias é 3 vezes superior aos valores destinados a ajuda aos
municípios e para a construção de creches, anunciadas após
as manifestações das ruas.
E destaco, por oportuno, que o alvo inicial das
movimentações de ruas foi exatamente a tarifa dos transportes urbanos – Movimento Passe Livre. Logo, vem a
pergunta que não quer calar: Em qual grupo que compõe a formação do IPCA se verificou a maior deflação? No
grupo “transportes”. Por isso é correto a afirmação de que a inflação é influenciada pelos movimentos
sociais organizados.
Para corroborar com essa assertiva, transcrevo
parte do texto de uma reportagem da Revista Carta Capital de 07.08.2013, quando
afirma que “A novidade para os
economistas é que foi percebido que há um novo instrumento anti-inflacionário
para combater preços estabelecidos por
oligopólios (máfias) que pactuam com governos. Quando a concorrência não resolve e a
regulação inexiste, as manifestações
podem resolver.”
Autor convidado: Edmilson Blohem
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